Se você já trabalhou em um time pequeno de pesquisa atendendo múltiplos squads, provavelmente já se viu nesse dilema: ou tenta fazer tudo sozinha, ou aprende, na marra (o meu caso), que delegar é parte essencial do trabalho.
Nos últimos tempos, venho aprendendo justamente isso. Como pesquisadora, é tentador querer estar à frente de todas as entrevistas, revisar cada roteiro, conduzir todas as análises. Afinal, a gente se importa — com a qualidade, com os aprendizados e com o impacto. Mas com o tempo (e um volume cada vez maior de demandas), ficou claro: ou eu abro espaço para delegar, ou vou me acabar tentando fazer de tudo (e não conseguindo).
Delegar não é deixar de fazer: é permitir que mais pessoas façam
Uma coisa que precisei entender é que delegar não significa se ausentar ou abrir mão da qualidade. É criar processos claros, envolver o time e confiar.
Designers e PMs podem — e devem — estar envolvidos na pesquisa. Quando isso acontece:
o entendimento sobre o problema se aprofunda,
as decisões se tornam mais alinhadas com as evidências,
e a responsabilidade pelos aprendizados deixa de ser só do time de research.
Mas isso exige que a gente, como pesquisadores, abra espaço para os outros participarem.
Quando você não consegue mais escalar fazendo tudo sozinha
Delegar passa também por entender o que realmente precisa ser feito por você — e o que pode ser facilitado por outras pessoas.
Alguns exemplos do que tenho praticado:
cocriar roteiros com designers e PMs;
pedir apoio para execução de entrevistas;
criar alguns tutoriais simples do passo a passo para entrar em contato com clientes.
Quando a gente faz isso, a pesquisa deixa de ser um processo centralizado e passa a ser um motor coletivo. E isso tem um efeito colateral ótimo: mais gente engajada com o problema, mais senso de dono sobre os achados e menos dependência de uma única pessoa para gerar impacto.
Soltar o controle exige confiança (e acompanhamento)
Confiar que outras pessoas vão conduzir bem a pesquisa é um exercício constante. Ainda mais quando os caminhos que elas escolhem são diferentes dos seus. Dá um frio na barriga.
Mas esse processo não é sobre soltar tudo de uma vez. É sobre acompanhar de perto no começo, estar disponível para apoiar, e ir criando segurança mútua aos poucos.
Delegar exige mais esforço no início, mas com o tempo, devolve autonomia para o time — e fôlego para você.
Conclusão
Delegar é uma habilidade — e uma escolha. Não é sobre fazer menos, mas sobre fazer com mais gente, de forma mais sustentável.
Envolver o time nas etapas de pesquisa não só distribui o trabalho, como fortalece a cultura de tomada de decisão baseada em evidências. Para times pequenos, esse é o único caminho para ganhar escala sem perder profundidade.
E, talvez o mais importante: é uma forma de cuidar da gente também. Porque ninguém precisa (nem deveria) fazer tudo sozinha.